in Voyages en Utopie, "Cités-Cinés"
Shuiten & Peeters
28.3.07
27.3.07
26.3.07
25.3.07
23.3.07
As Minhas Cidades XII
San Zhi, Taiwan
Construção edificada nos anos 70 entre as localidades de Damshui e Baishawan mais precisamente San Zhi.
Complexo habitacional que durante a sua construção foi parcialmente destruido por um tufão, a empresa face ao acontecido apresentou falência pois não teve capacidade para reparar os danos.
Desde então, continua adormecido...
22.3.07
20.3.07
19.3.07
China I
16.3.07
15.3.07
13.3.07
12.3.07
8.3.07
5.3.07
3.3.07
(Neon Bible) The Arcade Fire
Como é bom começar o ano desta forma...
Se o ano de 2004 tinha sido de boa colheita para estes canadianos, com o album "Funeral"(considerado por larga maioria, como o album desse ano), já 2007 será (profetiso) um ano vintaje com este novo trabalho "Neon Bible".
Já ouvi... e é sem duvida arrebatador. Provavelmente um dos mais admiráveis acontecimentos de 2007. Sai na segunda (05 de Março).
2.3.07
As Minhas Crónicas
CRÓNICA ESCRITA DEPOIS DE TER BEBIDO DOIS COPOS
DE VINHO TINTO AO ALMOÇO
A minha irmã Eneida casou com um comissário da TAP com argumento que gostava de homens mais leves do que o ar. Fez mas: a primeira vez que abriu a porta o marido saiu flutuando para o patamar e até hoje ninguém sabe onde poisou. O problema é que ainda teve tempo para a engravidar e o filho que se parece com o pai leva a vida pregado ao tecto como os balões de gás. A minha irmã amarrou-lhe um cordel ao tornozelo, puxa-o para baixo à hora das refeições e depois solta-o de novo para ele brincar com a tira de papel mata-moscas que está junto do candeeiro. Trata-se de uma criança um bocado aérea, sempre de cabeça nas nuvens e o facto de andar lá em cima permite-lhe falar-nos de alto e descobrir carecas. Para contrabalançar o desgosto de amor com o comissário a minha irmã Eneida procurou um homem sólido, compacto, suficientemente pesado para resistir a virar páginas, suspiros e furacões. Chama-se Rocha e aguenta tudo, embora do meu ponto de vista seja um sujeito um bocado passivo que só joga bridge na condição de ser morto. Está para ali sentado no sofá o dia inteiro, imperturbável, sem uma palavra, rígido, sereno, inamovível. Há ocasiões em que me pergunto se respira: não é um ser humano é uma parede mestra e se adormecer a minha irmã Eneida em vez de chamar o médico telefona a um geólogo que lhe explique as causas da erosão. Para fazer amor com ele calça botas cardadas e aproxima-se com um rolo de corda, ganchos e picaretas: pode dizer-se que é uma paixão que vai em escalada mas as coisas pioraram um bocado quando a minha irmã Eneida, ao alcançar o cume após três dias de esforços, encontrou uma bandeira cor-de-rosa cravada no vértice com o nome Elizabete bordado. O Rocha afirma que em tempos um grupo de alpinistas se lhe perdeu no pescoço e os helicópteros de salvamento não encontraram ninguém salvo um urso polar e umas ossadazitas dispersas na base da nuca. Agora, antes de se aproximar do homem, telefona sempre cá para casa a despedir-se e a minha mulher
(são amicíssimas)
oferece-se para a acompanhar o que eu proíbo terminantemente porque fui educado à antiga e além disso a minha mulher sofre de vertigens, tenho medo que caia do Rocha abaixo e se a mulher bater no Rocha quem se lixa é o mexilhão. Ela protesta com o argumento de que passamos a vida em casa e nunca a levo a parte nenhuma, propõe
- Para o caso de teres ciúmes porque é que não vens também?
Mas escalar cunhados não é género de divertimento que me excite. Talvez passemos lá as férias em Agosto
(não temos de pagar nada)
com os miúdos, acampados num joelho ou assim, porque segundo a minha irmã Eneida há verões com bom tempo no Rocha e existe imenso espaço na barriga onde as crianças podem brincar e jogar à bola mas a mim assusta-me as derrocadas que a tosse dele provoca e não me apetece contar no emprego ao perguntarem-me
- Onde foste em Agosto?
- Durante uma semana trepei pelo meu cunhado acima
que é uma coisa que as pessoas de maneira geral têm uma certa dificuldade em entender para além de serem levadas a pensar que me estou a divertir à custa delas. Portanto, Rocha não. Prefiro, agora que o meu sobrinho já é grande, pendurar-lhe um cesto dos pés e viajarmos um bocado pela Europa: não conheço Espanha nem França e só fui uma vez a Coimbra onde se anda de capa pelas ruas como na época dos três mosqueteiros, pedindo socorro com acompanhamentos de guitarras. O meu sobrinho, prestável, disse logo
-Vamos onde o tio quiser
e ando tentando aceitar, no caso de o Governo de Cuba o deixar sair da ilha onde está preso por ter violado o espaço aéreo. AS cartas que tem escrito são animadoras: arranjaram-lhe uma gaiola limpa, a alpista não é má, deram-lhe um canário fêmea para satisfazer as exigências da carne e tem cantado a Internacional para os membros do Partido. Se o não usarem como espia das ogivas atómicas americanas deixam-no ir embora de certeza a menos que o canário fêmea tenha crias: sempre tivemos o instinto da família e não acredito que ele abandone os ovos.
António Lobo Antunes
Livro de Crónicas
DE VINHO TINTO AO ALMOÇO
A minha irmã Eneida casou com um comissário da TAP com argumento que gostava de homens mais leves do que o ar. Fez mas: a primeira vez que abriu a porta o marido saiu flutuando para o patamar e até hoje ninguém sabe onde poisou. O problema é que ainda teve tempo para a engravidar e o filho que se parece com o pai leva a vida pregado ao tecto como os balões de gás. A minha irmã amarrou-lhe um cordel ao tornozelo, puxa-o para baixo à hora das refeições e depois solta-o de novo para ele brincar com a tira de papel mata-moscas que está junto do candeeiro. Trata-se de uma criança um bocado aérea, sempre de cabeça nas nuvens e o facto de andar lá em cima permite-lhe falar-nos de alto e descobrir carecas. Para contrabalançar o desgosto de amor com o comissário a minha irmã Eneida procurou um homem sólido, compacto, suficientemente pesado para resistir a virar páginas, suspiros e furacões. Chama-se Rocha e aguenta tudo, embora do meu ponto de vista seja um sujeito um bocado passivo que só joga bridge na condição de ser morto. Está para ali sentado no sofá o dia inteiro, imperturbável, sem uma palavra, rígido, sereno, inamovível. Há ocasiões em que me pergunto se respira: não é um ser humano é uma parede mestra e se adormecer a minha irmã Eneida em vez de chamar o médico telefona a um geólogo que lhe explique as causas da erosão. Para fazer amor com ele calça botas cardadas e aproxima-se com um rolo de corda, ganchos e picaretas: pode dizer-se que é uma paixão que vai em escalada mas as coisas pioraram um bocado quando a minha irmã Eneida, ao alcançar o cume após três dias de esforços, encontrou uma bandeira cor-de-rosa cravada no vértice com o nome Elizabete bordado. O Rocha afirma que em tempos um grupo de alpinistas se lhe perdeu no pescoço e os helicópteros de salvamento não encontraram ninguém salvo um urso polar e umas ossadazitas dispersas na base da nuca. Agora, antes de se aproximar do homem, telefona sempre cá para casa a despedir-se e a minha mulher
(são amicíssimas)
oferece-se para a acompanhar o que eu proíbo terminantemente porque fui educado à antiga e além disso a minha mulher sofre de vertigens, tenho medo que caia do Rocha abaixo e se a mulher bater no Rocha quem se lixa é o mexilhão. Ela protesta com o argumento de que passamos a vida em casa e nunca a levo a parte nenhuma, propõe
- Para o caso de teres ciúmes porque é que não vens também?
Mas escalar cunhados não é género de divertimento que me excite. Talvez passemos lá as férias em Agosto
(não temos de pagar nada)
com os miúdos, acampados num joelho ou assim, porque segundo a minha irmã Eneida há verões com bom tempo no Rocha e existe imenso espaço na barriga onde as crianças podem brincar e jogar à bola mas a mim assusta-me as derrocadas que a tosse dele provoca e não me apetece contar no emprego ao perguntarem-me
- Onde foste em Agosto?
- Durante uma semana trepei pelo meu cunhado acima
que é uma coisa que as pessoas de maneira geral têm uma certa dificuldade em entender para além de serem levadas a pensar que me estou a divertir à custa delas. Portanto, Rocha não. Prefiro, agora que o meu sobrinho já é grande, pendurar-lhe um cesto dos pés e viajarmos um bocado pela Europa: não conheço Espanha nem França e só fui uma vez a Coimbra onde se anda de capa pelas ruas como na época dos três mosqueteiros, pedindo socorro com acompanhamentos de guitarras. O meu sobrinho, prestável, disse logo
-Vamos onde o tio quiser
e ando tentando aceitar, no caso de o Governo de Cuba o deixar sair da ilha onde está preso por ter violado o espaço aéreo. AS cartas que tem escrito são animadoras: arranjaram-lhe uma gaiola limpa, a alpista não é má, deram-lhe um canário fêmea para satisfazer as exigências da carne e tem cantado a Internacional para os membros do Partido. Se o não usarem como espia das ogivas atómicas americanas deixam-no ir embora de certeza a menos que o canário fêmea tenha crias: sempre tivemos o instinto da família e não acredito que ele abandone os ovos.
António Lobo Antunes
Livro de Crónicas
1.3.07
Babel de Vladimir Tatlin
Subscrever:
Mensagens (Atom)